terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

PRETO E BRANCO

Nas minhas remotas lembranças a minha Campos é preto e branco. Meu avô era preto e branco, Dindinha era preto e branco, tio Antoninho cantava serestas no chuveiro e a música também era preto e branco. As cores foram entrando na minha vida aos poucos, gradativamente, mas nunca me sensibilizaram tanto quanto as matinês no Trianon. Oscarito e Grande Otelo (nada mais preto e branco), o Gordo e o Magro, Chaplin, Zorro, Roy Rogers, todos sem um pingo de cor, todos preto e branco. No Cine Capitólio, na rua da casa de Rosane Sampaio, onde nos reuníamos adolescentes para ver o filme do dia (seriado) e para trocarmos gibis, Fantasma, Zorro, Mandrake, etc, etc. Tudo preto e branco.

Certa vez, fui obrigado, por ser o mais velho, a levar meu irmão Zé Carlos ao cinema e como vingança elaborei a possibilidade de que uma flecha dos índios pudesse sair da tela e alcançá-lo na cadeira. Com um medo preto e branco, ele passou o filme todo agachado atrás da poltrona sem ver nada.

Querem saber, acho que não cheguei a me tornar colorido até hoje.
Eu sou um autêntico preto e branco.
Tonico.
O FUTURO É APENAS UM SONHO ÁVIDO POR SE TORNAR PRESENTE.
T.

ADEUS ARCOZÊLO


11:40h do dia 29/01/2011. Estou no sítio da família da minha mulher, o clima é de despedida, o sítio foi vendido, Marina resiste o quanto pode e quando não resiste chora melancólica. As crianças, Antônio e Nina, ignoram a iminência da perda e brincam na piscina como se aquele mundo jamais fosse acabar. No entanto, há 46 anos Marina vive com esse pomar de frutas deliciosas (mangueiras, jaqueiras, abacateiros, palmeiras imperiais) e, fundamentalmente, com o ar precioso que Arcozêlo nos lança aos pulmões de forma sistemática e generosa. Marina sofre, e com razão, despedidas nos proporcionam um dos piores sentimentos que nos impõe a vida. E se ela for bem vivida, isto pode ser aferido pela quantidade absolutamente enorme de despedias com que nos depararemos, até o dia em que se despedirão de nós e, então, passaremos a ser apenas lembranças nas histórias dos outros.
Esta noite não tomei nem tomarei vinho e escrevo sem a inspiração que ele me proporciona, mas apenas contaminado pela melancolia de Marina, afinal, tentamos ser cúmplices em nossas vidas e eu tenho que me despedir também. Vá Arcozêlo, hospedar outros hóspedes, enquanto que você será hóspede eterno em nossas lembranças felizes.
E me dirijo ao banheiro, para me despedir de forma plena.
Tonico.